A inclusão vai acontecer na medida em que possamos romper com a pressuposição e com a vergonha!
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Diminuir o estigma favorece a inclusão? Como fazer para a inclusão acontecer? Estas são as duas perguntas que mais respondi nestes últimos anos em minhas palestras, Brasil e em vários países do mundo. Foram tantas as vezes que decidi escrever uma breve reflexão sobre isso. Pode ser que esta reflexão complique mais a situação, mas, a complexidade não está na reflexão e sim no tema inclusão que é de fato espinhoso.
Diminuir o estigma favorece a inclusão?
Sim! Diminuir o estigma favorece a inclusão, mas, na verdade não seria atacar o estigma diretamente. Devemos atacar o que constrói o estigma, ou seja, a pressuposição e a vergonha. A pressuposição e a vergonha são poderosas ferramentas de controle social. Vivemos numa sociedade em que a relação de poder está instalada e por conseqüência a tendência ao controle é enorme e quase uma regra. Nessa relação de poder as pessoas “precisam” controlar outras para justamente manter o poder e para isso usam as ferramentas de controle – pressuposição (pensamento antecipado) e a vergonha.
Essa pergunta: Diminuir o estigma favorece a inclusão? Tem a mesma essência da pergunta que respondo em todas as partes do mundo: Como fazer para a inclusão acontecer? E sempre respondo: A inclusão vai acontecer na medida em que possamos romper com a pressuposição e com a vergonha!
A pressuposição, para mim, depois de ser aplicada sobre a identidade de uma pessoa, por muito tempo, então, solidifica o que chamamos de estigma, uma marca. Exemplo de como a pressuposição afeta a identidade: As pessoas, em geral, ao avistarem uma pessoa cega na rua pensam: – Um cego coitado não enxerga! Em geral, ao avistarem uma pessoa cadeirante na rua pensam: – Coitado não pode caminhar! E isso, em geral, acontece com todas as pessoas com deficiência. Então: Porque sempre “coitado”. E assim passa os anos. Sempre a identidade sendo regada pelo “coitado”. E depois de muitos anos o que temos? Ora, temos mais um cego coitado, mais um cadeirante coitado, mais uma pessoa com deficiência coitada. Vou ser um coitado porque todos me vêem como coitado! Fim. A pressuposição venceu. A ferramenta de controle cumpriu com seu dever. O Poder – precavido – aniquilou a possibilidade de esta pessoa ser alguém que poderia “perturbar”.
É nesta linha reflexiva que digo: – Temos um bilhão de pessoas com deficiência no mundo, somos a maior minoria mundial, mas muito poucas com soberania. A “esmagadora” maioria vive sua identidade pressuposta, com nada de poderes nas relações de poder, ou seja, vivem controladas.
E a vergonha?
A vergonha para mim é a mais terrível ferramenta de controle. Terrível porque age na ignorância social e do ser humano em confundir “culpa e vergonha”. E onde está esta confusão? Em geral as pessoas sentem vergonha sem serem culpadas. Não são culpadas, mas sentem vergonha e aqui está o poder-controle da ferramenta vergonha.
Nas minhas palestras pergunto para as pessoas:
– Você sente vergonha?
As pessoas respondem:
– Sim eu sinto.
E eu novamente pergunto:
De que você sente vergonha?
As pessoas – depois de olharem para todos os lados e ficarem vermnelhas – respondem:
– De muitas coisas, mas na verdade não sei bem.
Como podem observar as pessoas não tem certeza da culpa. A vergonha como ferramenta de controle age justamente nesta incerteza. Para mim está claro e provado – depois de vivenciar diversas culturas e comportamentos – que as pessoas com deficiência mais desenvolvidas são aquelas que têm bem claro “culpa” e “não culpa”. Elas apenas sentem vergonha se são culpadas. Se não são culpadas elas não sentem vergonha.
A pressuposição e a vergonha: na corrente do interesse
A pressuposição e a vergonha à medida que subalternizam pessoas com deficiência, também dão poderes a elas. É o que chamo de “na corrente do interesse”. O Poder na grande maioria das vezes escolhe pessoas com deficiência pontuais e subalternas para receberem cargos, status e prestígio, mas, esta escolha serve justamente para manter o controle. Todos sabem que nos dias atuais essa prática é comum. Muitos de nossos “líderes” são assim. O Poder dá o “Poder” para aqueles que não vão ser agentes, para aqueles que não vão “ferir” as relações de poder, ou seja, aqueles que não vão “quebrar” a corrente.
O que acabamos de refletir é definitivamente espinhoso. É justamente este tema que debato em minhas palestras. Este tema é tão espinhoso que não conheço no mundo outra pessoa a abordá-lo tão abertamente em congressos além de mim. Debater este tema – pressuposição-vergonha-poder-subalternidade – é sim, acertar diretamente na “ferida” da essencia humana e social. Quem tem disposição em abordar este tema deve estar ciente de que estará atingindo a “normalidade”, o “poder”.
Saudações
Alex García
Pessoa Surdocega. Presidente da Agapasm. Coordenador do Núcleo Regional Rio Grande do Sul do Instituto Baresi. Escritor. Especialista em Educação Especial. Vencedor II Prêmio Sentidos. Rotariano Honorário – Rotary Club de São Luiz Gonzaga-RS. Líder Internacional para o Emprego de Pessoas com Deficiência Professional Program on International Leadership, Employment, and Disability (I-LEAD) Mobility International USA / MIUSA. Membro da World Federation of Deafblind – WFDB. Colunista da Revista REAÇÃO e do Portal Planeta Educação. Consultor da Rede Educativa Mundial – REDEM. Consultor Instituto Inclusão Brasil
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